2 de setembro de 2012

Que expetativas...

Pediram-me, do Jornal de Letras, um texto que explicasse as minhas expetativas para o ano letivo que agora se inicia...
Respondi assim:

Já tenho alguns anos de expetativas sempre que um ano letivo começa. E, invariavelmente, quando me dedico a fazer a avaliação final e retrospetiva, acabo a concluir que nunca correspondem ao que, no final, constato.
Talvez porque as expetativas são, normalmente, altas ou porque a Educação, em Portugal não é uma ciência exata, ano após ano vou compreendendo que é sempre melhor “esperar para ver”.
Não obstante, e tendo em conta alguns dos “anúncios” (uns formais, outros oficiosos) divulgados pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC), acredito que algumas “coisas” acontecerão ao longo deste ano letivo que agora se inicia.
Em primeiro lugar, sinto que nunca como agora se olhou para a Educação como um espaço de intervenção social, económica e cultural. E esse sentimento torna-se mais evidente pela análise das condições económicas associadas ao processo educativo do país do que pela assunção da importância do espaço educativo como motor de desenvolvimento.
Parece-me que a Educação não será um “investimento de valor seguro”. Pelo menos na educação pré-escolar e no primeiro ciclo do ensino básico: o aumento do número de alunos por turma, os condicionalismos impostos ao número de turmas (esquecendo, por vezes, as características locais e culturais), a reorganização de conteúdos curriculares e a “autonomia” de decisão parecem-me fatores a ter em conta numa análise de expetativas.
A irresponsável forma de “redistribuição” de “funcionários públicos da educação” (vulgo professores), sem qualquer tipo de análise e avaliação de competências (de entre os que fazem já parte dos quadros do MEC), com objetivos puramente economicistas vem não só alterar as dinâmicas em curso em muitas escolas como, em alguns casos, penalizar boas práticas desenvolvidas por docentes recém chegados ao sistema, e por isso mais atualizados (e quiçá) melhor preparados para os desafios da Educação. Mais grave ainda porque faz “tábua rasa” de processos de avaliação (e não discuto a sua qualidade!) que envolveram todos os docentes nos últimos anos. A “dispensa” de professores sem qualquer correlação com os seus resultados educativos e pedagógicos, favorecendo, em alguns casos, o regresso às salas de aulas de docentes com falta de rotina e, sobretudo, conhecimento pedagógico atualizado, é assustador.
Daqui também se pode inferir uma outra expetativa negativa que tenho: os gestores escolares (vulgo Diretores), cerceados por uma pretensa autonomia que, na realidade não existe (seja por vontade própria, seja por via de um sistema burocrático e centralizado) e não tendo, por eles, competências reais de gestão económica, de recursos contabilísticos e humanos e de capacidade financeira, transformar-se-ão em esbirros do poder económico, esquecendo as suas qualidades docentes e de planeamento pedagógico.
Por tudo o que expus, o meu principal desejo para este ano é o de que o “investimento” na Educação seja muito mais reflexivo e de planeamento do que financeiro e económico. Antes de mais, é fundamental que a Escola olhe para as mudanças sociais em curso como um todo e que as saiba incorporar na sua dinâmica formativa. Não o fizemos com os desafios anteriores (demográficos, tecnológicos, conhecimento…) e estamos a caminhar para que assim continue. Mas, apesar das “boas intenções” demonstradas, não me parece que possamos presumir que o ano letivo seja pródigo em análise, reflexão e planeamento educativo…
No fundo, a “novidade” que mais prazer me daria receber é a de que os docentes aproveitariam estas contrariedades designadas de “crise” para reconstruir um modelo educativo de longo prazo para o país. Essa seria mesmo a “única” novidade…

Para todos aqueles que agora iniciam mais um ano a acreditar que é possível,  Boa Sorte!

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